Monday, December 18, 2006


Estou vivo
E conheço o lugar difuso
Onde costumam apodrecer
Os incómodos do Mundo

Estou vivo
Melhor que nunca p'ra morrer
Mas apenas quando a hora muda
No mais fundo de mim amanhecer
Estou vivo
E há quem não possa perceber
Este navegar no mar profundo
Estou vivo
Que morte me fará morrer?...

Noronha Feio

Tuesday, December 12, 2006


"Auto-retrato com boné" de Almada Negreiros

(óleo sobre tela)
CONFIDÊNCIAS:

Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar historias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se cansa de viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. como a mesa. eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

Almada Negreiros